Boneca de plástico com olhos de vidro, vazios como o infinito, à espera de um milagre. Sangue por todo lado. Abraços forçados, sorrisos falsos. Boneca de plástico de corpo esquelético no palco improvisado de uma vida perdida. Educação fingida, concursos de beleza, a número um! Olhos pintados de rosa, boca desenhada, felicidade invejada.
O mundo que podia ser criado. Sentimentos que a tornavam melhor. Onde dizer o que era real ou ilusão? Por alguns segundos se perdia abrindo asas inventadas e saltando sem medo algum para o abismo secreto escondido dentro dela. Olhava para trás mantendo lágrimas escondidas de si mesma. Toda uma história de desejos renunciados. Talvez quando crescesse sozinha na escuridão que amedronta heróis gregos, talvez todas as suas lembranças se tornassem pequenas salvações. Dizendo que está tudo bem, persegue estrelas mortas para aquecer um pedaço de paz de quando estava nas asas de um anjo, reconforto seguro. E o relógio no pulso marcava o tempo que não voltava mais, e apesar de saber disso, dizia sempre inocente, "Temos tempo!", mais para si do que para qualquer outra pessoa, "Mantenha sua alma à salvo, guarde bem suas palavras e seus nós de marinheiro. Em algum momento a vida irá cobrar por seus erros e nunca entenderão que suas falhas eram apenas por medo de laços profundos e dores insuportáveis. Dizer adeus às vezes pode machucar pra sempre." Diferente do que dizem não há salvação amigo triste, o mundo anda morrendo de solidão, consciência adormecida... Era frio aqueles dias e uma segunda chance era o que todos desejavam.
Acreditasse que amor não morre. Que saudade se apaga. Que olhos se esquece. Asas de anjo partido humanamente. Reconforto esquecido. Flores de plástico sem perfume e sem cor.
Ah, se soubessem que seus lábios machucavam, alma de carne e sangue. Era uma sonhadora e vivia em países imaginários e castelos acorrentados ao céu, embalando em sacos plásticos seus sentimentos para melhor conservar na geladeira que era seu espírito atormentado por dores imaginárias e cortes sem cicatrizes.
Em seu mundo o amor machucava.
Caminhos opostos e cruzados marcavam sua vida. Uma noite longa se anunciava palidamente e seus olhos já vermelhos e cansados quase se recusavam a permanecerem abertos. Quase! E com medo aguardava o abismo silencioso iluminado por estrelas, onde uma Lua infeliz pairava no céu. Sua amargura poderia ter consolo?
Ah, se a primavera dependesse dela... eternos invernos no reinado da boneca de plástico.
Renata Lôbo