quinta-feira, dezembro 18, 2008

Assim

É só saudade e sangue escarlate escorrendo de veias abertas.
Diria que é amor?
Diria que é para sempre?
A loucura apertando-lhe o pescoço, sufocando.
O grito da morte.
Diria que vai passar?
Diria que vai ficar?
Até onde posso acreditar nessas verdades falsas?
Juras manchadas, marcadas pela falsa crença de um amanhã sem limites...




À procura de bestas feras para arrancar meu coração do peito. E assim o verei batendo, solitário, tropeçando nas raízes de seu pulsar. Verei a mim mesma tropeçando em lembranças com gosto de saudade. O mundo me bate e me beija e caminho solitária entre labirintos escuras buscando pela Lua. Liberdade é meu lar. É tudo simples. E o amor vai passar. Dele não restará nem rastro, nem cheiro, nem sonho. Eu passarei. E de mim o que sobrar será esquecido, substituído. Sem passado nem futuro. Vamos viver assim! Pois é só assim que sei viver. Emaranhados coloridos e obscenos. Inocentes sorrisos. Tudo será de leve para não me esmagar com a sombra da verdade. Para que eu não destrua ninguém com as minhas verdade. Interpretações baratas, falsas comédias. Acordar do sonho provoca pesadelo na alma, vômitos à meia-noite, soluços de madrugada. Vamos adomecer e quando o Sol acordar iremos viver. Vamos viver o hoje oara sempre; amanhã é outra eternidade, estreita, escura, solitária. No deserto dos meus fantasmas é que me encontro e me perco, cinderela sem sapatos de cristal. Sem contos-de fada, mas conto-real. O máximo de mim será meu oposto, transparente, translúcido, ninguém. Reconhecível e estranho. Uma prisioneira livre. Sem ninguém. Sem amarras e nem correntes. Sem paredes.
E sem nunca poder ficar.....

Renata Lôbo

quarta-feira, dezembro 17, 2008


Só que aquilo não contava como parte do seu fatal. Se distanciava do mundo ou das pessoas que a reconheceriam como um mundo. Que as pessoas não esperassem nada dela, era isso que desejava. Cercava-se de carne desconhecida, de rostos que nunca lhe veriam quando a noite ameaçasse lhe morder tirando sangue de sua alma, cada vez mais apagada. Isso era seu doce suicídio, seu segredo sepulcral. Ninguém entenderia e ela seria apenas mais uma dessas pessoas, pouco interessantes, pouco convenientes em mundos pintados de rosa. Talvez estivesse tudo bem ser assim. Sem jogos e segredos; estes, havia enterrado em algum canto junto com seu passado. Porque memórias não interessavam a ninguém. Apenas a ela. E apenas de vez em quando. Pois que o mundo lhe arrancasse tudo. Nada disso importava enquanto aquele pedaço de seu mundo permanecesse salvo, mesmo que enterrado. Mesmo que isso significasse uma alma apagada de rosto comum. Mesmo que ninguém nunca entendesse tudo que era ela.
Não havia volta. Não havia para onde voar. Que fosse assim então. Não era triste. Era sensato. Nada de amores. Não esssa noite. Não para ela. O que quer que existisse naquele instante e naquelas noites, estava incógnito. Escondido entre alguma estrela murcha e pedaços cinzas de seu céu caído. Apenas assim...

Renata Lôbo