quinta-feira, dezembro 09, 2010



Então me deixa brilhar que vou chorar mais tarde. Minha verdade está escondida, minhas trevas disfarçadas de sombras gentis. Você não veria nada se eu não te dissesse. Se eu não te mostrasse, as cores continuariam contentes em girassois envenenados... Mas não te mostro. Por pura vingança te deixo acreditar em arco-íris transplantados de felicidade barata. Espero que se machuque. Espero que a vida te doa pelo menos um pouco. Coração de gente grande é assim, um monte de cicatrizes de guerra, um pouco calejado, alguns chegam mesmo a faltar um pedaço, quase a metade, e de vez em quando ainda sangra, nos dias de chuva até dói um pouco, como joelho velho em um corpo novo. E se ele cantar em noite de lua cheia, não se assuste. Mas lembre-se de mim. Talvez o meu coração também esteja cantando. Serenatas no vão do tempo. Um pouquinho de memória, e um pouco de alcool só para acompanhar, e uma ressaca sem fim. Saúde!

Renata Lôbo

segunda-feira, dezembro 06, 2010

A sensação de 'estar superando' tem engatinhado aqui dentro, somos velhas amigas em encontros desastrosos. Caminho lentamente com o coração falho, lembranças engavetadas, sabe como é? Talvez agora eu possa encarar as escolhas que fiz com mais orgulho que dor. Com mais amor e menos mágoa. Amor por mim mesma - se é que sobra algo. Dê o braço a torcer e peça por mim, estou arriscando muito. Feridas semiabertas, ou seria semifechadas? Olhe para mim! Tenho novas cores, novos traços, o esboço de um sorriso antigo.
Talvez eu supere mesmo. Talvez eu corra cirandas encantadas e rasgue páginas. Um número de cada vez. Um dia de cada vez. Um sonho por dia. E um dia por sonho. Memórias transbordando sem finais felizes, sem ponto final. Só você e eu. Não. Só eu. E hoje. Porque o pôr do sol era magico e era só meu. Um céu inflamado de dores superadas e cuspidas, pois não quero mais nada disso.

(Confesso que por vezes, ainda estou afundando lentamente, e às vezes chego a segurar o fôlego, pois tenho medo de me afogar pra sempre... Confesso que o sangue está correndo na direção contrária, que minha alma continua de pontacabeça, que sinto saudades de sentir amor, não o de outras pessoas, mas de mim para qualquer alguém. A solidão está me devorando aos poucos, um pedaço de cada vez.
Confesso que superar não é tão divertido, porque no final não sobra nada, nenhum pedaço de história para agarrar no meio da noite como um cobertor de criança... Sinto falta de cheiros que me levem para qualquer outro lugar que não aqui... Sinto falta de ser gente, perdi o jeito e já não sei como me segurar à borda da normalidade...
Um Ouriço assustado. É o que sobrou da minha casca. )


Contravenções e Contradições, sou um pouco de tudo. De tudo ao meu tudo, que seja bom meu próximo mundo. Cicatrizes superadas. Só por hoje.


Renata Lôbo

sexta-feira, dezembro 03, 2010


Há mais de mim em mim, do que de você em qualquer lugar que eu olhe. É uma pena.

Renata Lôbo