sábado, novembro 14, 2009

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Eu queria dizer algo, eu não sei. Para a próxima geração, talvez. Para o próximo eu.
Se o mundo fosse da cor que eu quero... Se os sonhos tivessem caramelo... Se borboleta fosse realmente uma flor que voa... Se o meu fim fosse o que pedi...
Talvez eu possa esperar por essas horas que não chegam. Talvez meus sapatos não me apertassem e minhas mãos não tremessem. Talvez o trem tivesse passado cinco minutos mais tarde e eu não tivesse te perdido.
Minha querida, eu quis tanto te encontrar naquela noite solitária onde meu futuro caminhou em minha direção e me disse tudo o que eu nunca podia imaginar. Se eu soubesse o hoje, prometo que teria me esforçado e nunca teria te deixado partir de mim.
Esses sãos sonhos fugazes e o agora que tenho me atormenta. Eu me esforço, mas não consigo te ouvir. Naquela noite eu gritei seu nome enquanto o trem partia, o barulho era tanto que minha garganta quase explodia. Entende? Era minha última chance para te dizer tudo o que não podia. Havia tanto mundo aqui dentro, mas desde aquela noite, acho que me perdi por entre eles, sempre te chamando. Queria ter te mostrado as cores dos meus sonhos. Mas ao invés disso, sinto tanto por ter te empurrado para tão longe de mim, quando você sorria com olhos de felino abandonado me pedindo para que te contasse novas histórias onde tudo seria possível, você sabia sobre os meus mundos e eu nunca havia me dado conta, até encontrar aquela carta abandonada em uma escrivaninha empoeirada no meu próprio quarto. Era sua, me disseram. E o trem já estava quase partindo. Perdi o fôlego ao me lembrar de você, dos seus olhos e sua risada maldosa enquanto eu corria para não perder meu destino. Meu futuro. Minha vida.
Isso foi um sonho, tenho certeza, não há outra forma para descrever sobre aqueles dias em que te encontrava na porta do sobradinho esperando por alguém. Hoje me pergunto se seria por mim... Mas é claro que não. Como poderia?
Enquanto conversávamos você me contava mentiras inocentes e fazia promessa fugazes que eu nunca ouvia. Você me trazia cores que eu nunca notava. Você abandonava sua espera e me acompanhava, e eu nunca entendia o porquê da sua determinação em me mostrar o outro lado das coisas. Mesmo hoje eu não entendo. E continuo voltando à noite do trem, à noite sem adeus, à noite em que tudo fez sentido. À noite em que tudo terminou, pensando que talvez eu possa fazer o tempo parar, fazê-lo voltar e me sorrir de novo. Como você sempre fazia.
Mas já é fim de tarde. É fim de mês. É fim de tempo.

É fim de mim.


Essa saudade é que mata.
O que é saudade?
Você não sabe o que é saudade?
Nunca me explicaram.
Você nunca sentiu saudades de alguém?
Como posso saber se não sei o que é saudade?!
Mas não é algo que alguém lhe deva explicar.
Como você soube que estava sentindo saudade pela primeira vez?
Não diga isso como se fosse uma doença! Não é o mesmo que ter uma dor de cabeça!
Mas não é?
Não... Eu acho que não... Quero dizer, não pode ser... Pode?
E eu é que sei?


Renata Lôbo

sexta-feira, novembro 06, 2009


Sou uma bonequinha de cera e roubei o mundo.
Não fui punida por isso,
Não caí no abismo por ser má,
E nem voltei por ser boa.
A indiferença dos pólos me incentivou a ir em frente,
Sem cair e sem me machucar.
Somo mundos,
Subtraio sonhos,
Perco caminhos
E encontro rumos
.
Renata Lôbo

(- e ninguém aqui vai notar que eu jamais serei a mesma. – Zélia Duncan)

quinta-feira, novembro 05, 2009

Pecados


Percorri todo meu deserto em busca de mim mesma. E o que encontrei foi meu mar de pecados disfarçados de um cinza-camaleão.

Me perdi e me encontrei,
entre flores pálidas me deixei,
com gosto de sangue e pesadelos me alimentei.


Estou procurando. Estou encontrando. E tudo isso é meu. O que vivi e o que sonhei. Amores que sufoquei. Hematomas na alma.

Vou te expulsar de mim amanhã. Hoje ainda não. Preciso dizer seu nome mesmo que não seja para ninguém. Vou deixar minhas tristezas, minhas máscaras, minhas roupas pelo chão... e pela casa vou te encontrar perdido pela minha imensidão. – Eu te dou minhas forças para que você não se quebre quando eu te mostrar meu mundo. Para que você não se perca eu te dou minha mão. Vamos juntos só por hoje que o mundo é grande demais para se estar tão só. Amanhã eu te parto de mim com uma faca sem corte.

Vai doer.
Já te digo desde já...


Sem pressa e sem dor. Esse mundo não é meu, mas eu não tenho medo.
Não esteja lá fora quando começar a chover. Não espere para ver as lágrimas do sol. As lágrimas da lua. Não existe essa coisa de aprender a amar. Não existe isso de sentido. Destino. Me deixe ser o que quer que eu seja.


Não me ame, eu pedi. Mas não me odeie, eu implorei. Algum dia fará sentido, eu prometo. Quando me esquecer.

Minhas palavras ásperas
não mais te arranharão.


Renata Lôbo