quinta-feira, janeiro 03, 2008

Os olhos enrugados da velha lhe observavam de cima à baixo. Pegou com uns dedos velhos o cigarro de palha que guardara desde cedo, acendendo distraidamente enquanto eperava que a garota começasse a falar. Mas esta ainda parecia perdida em seus pensamentos. Soltando a fumaça fedida desejou que terminassem logo, pois mesmo na velhice havia pressa em descansar. - Então, o que espera de mim? - dissera perdendo de vez o pouco da paciência que a velhice lhe trouxera. A menina, mexendo delicadamente em seus longos cabelos dourados, respirou fundo tentando encontrar coragem.
- Espero que possa me dizer o que sabe. - dissera simplesmente.
- A idade me ensinou muitas coisas menina. Desculpa, mas terá que ser mais específica. - a menina levantou-se da cadeira andando de um lado para o outro ansiosa. Havia esperado tanto tempo por esse encontrou e agora não sabia como se expressar. Olhava para o chão, olhos vidrados. Buscando as palavras certas.
- Há tantas coisas que desejo saber... - sentou-se novamente fixando seus negros olhos nos olhos cansados da velha, e esta, observando a menina através de sua nuvem cinza de fumaça fedida, sorriu divertida com o nervosísmo de sua convidada. Sem dúvida lembrou-se de Sophia, ambas tinham o mesmo ímpeto e uma certa arrogância, a mesma postura de princesa mimada, mas a menina à sua frente tinha algo que Sophia jamais possuíra. Não sabia especificar ao certo o que seria essa coisa que as tornavam tão diferentes. Retribuindo o olhar fixo à menina, a velha sentiu-se realmente satisfeita em tê-la observado por tanto tempo. Valeu à pena! pensou. E desejou poder viver muitos anos mais para assistir ao desenrolar do destino da menina. Como será que tudo terminaria? Sentia a curiosidade despontar no peito. Ah, já vira tanto da vida, assistira também pacientemente a história de Sophia. E o que gostava mesmo era apenas assistir - embora tenha interferido em algumas coisas quando Sophia apareceu à sua porta muitos anos antes - mesmo assim, não lhe interessava estar na frente das cortinas, mas no meio da platéia.
Deu uma leve batida no toco do cigarro e as cinzas caíram mortas no cinzeiro de vidro, mas mantivera os olhos vidrados aos da menina para que esta começasse logo a falar.
- Sabe que estive a sua procura. Soube que me conhece de longa data, embora seja a primeira vez que te vejo. Como isso é possível?
- Tem razão. Há muito tempo venho te acompanhando. Eu diria mesmo que te conheço como a palma da minha mão! - olhara a palma da mão como se ali visse algo misterioso e inexplicável - Oh, não se assuste menina, há mais coisas nesse mundo do que imagina. E se te interessa saber, eu não sou a única que te observa. - a menina olhou assustada à sua volta, como se tivesse medo de que de repente encontrasse olhos ao seu redor. A velha riu-se. Foi a mesma reação de Sophia, há muitos anos atrás. - Não se preocupe, por aqui não encontrará olhos à sua procura, mas posso te garantir que estarão lá fora à sua espera. - Então a velha, guardando o sorriso tornou-se novamente séria e em seu rosto as marcas do tempo pareceram mais severas ainda. - Sophia deveria ter te mostrado todas as armadilhas que te aguardavam. É pena que ela não teve tempo. Mas você já sabia que eu conhecia a sua mãe certo?
- Eu soube. A senhora dos gatos que me disse para te procurar, disse também que você ajudou minha mãe.
- É. - dissera nostalgica - Isso foi há tanto tempo. Foi uma grande mulher! É por isso que tenho te observado. - Apoiando com os cotovelos na mesa, aproximou o rosto enrugado ao da menina, uma mexa de seu cabelo branco caíra em seu ombro, o que ela afastou com um movimento delicado, dissera quase em um sussurro, como quem confia um segredo:
- Eu estive à sua espera! - depois afastara-se sorrindo um pouco maliciosa.
...

Renata Lôbo

Um comentário:

Anônimo disse...

Ah, que coisa. Jura que vai deixar esse ar de interminado para que eu fique curioso? isso é desumano! haha
Não sei se foi sua intenção, mas fica meu comentário. Esse é o primeiro texto seu em que vejo repetições de palavras. Vou reler depois, pra ver se não foi algo mais proposital.
De qualquer forma, espero que continue esse, é cruel todas as duvidas sem resposta rsrs