sexta-feira, junho 11, 2010




Eu não sei. Talvez já não haja mais nada para dizer. Mas é que essa noite foi tão absurdamente incrível que algo deveria ser dito. E não foi nada demais não. Apenas a vida. E esse momento de extrema doçura, espero não perder. Porque toda lembrança é em carne viva. Mas nem por isso doi. Na verdade doi sim, mas é uma dor que cura. Porque nem todo sangue é ruim. Nem toda bondade é boa. E nem toda vida é intensa.
Nesse exato momento eu me sinto mais viva que nunca. Mais acordada. Mais lúcida do quase-nunca. A lucidez ajuda da mesma forma que pode matar. Eu estou lúcida e o mundo brilha em cores que não conheço. Não quero dar nomes. Não quero limitar meu mundo porque eu também não tenho nome. Apesar de ser. Sei muito bem que nesse mundo o ser precisa ser. Para pertencer. Para estar.
E na noite de céu tão escuro os carros seguindo para a direção que-não-sei com suas pessoinhas que nunca vou conhecer. Destinos que não me pertencem. Mas tudo está vivo. Tão vivo que meu coração dá um pulo, vai no mundo e volta. Tudo está vivo e os faróis me lembram que também estou aqui, meu corpo reconhecível e recortado contra a escuridão tenebrosa. É preciso ter escuridão dentro de si para que se possa reconhecer e amar a luz. Quero estar aqui. Quero ser essa pessoa indizível e de gostos estranhos, que procura amar através de muros de concreto. Quero acreditar. Acreditar só por acreditar. De graça mesmo. Como se ao não ganhar nada eu ganhasse algo. Algo que é só meu e me faz abrir os olhos e os braços para o instante agora. Porque é só nesse momento agora que tudo isso existe.
Estou com saudade de viajar. Entrar em um ônibus e ir para algum lugar que mal sei. A doçura do momento me deixa desprevenida. Ver campos verdes de cidades que não conheço e nunca vou conhecer. Imaginar que ali a vida também existe tão intensa e real quanto minha própria realidade. Meu próprio eu. E ali alguém também será eu. E assim eu estarei no mundo inteiro. Irreconhecível e mutável.
Desci do ônibus um ponto antes porque não me aguentei mais dentro de mim. Precisava caminhar. Tantos pensamentos dentro da cabeça dá pra fazer o mundo parar. E não quero que nada pare. Quero continuar correndo atrás dos meus sonhos agarrada à essa estranha realidade onde o vivo e o real me dominam com um sorriso bobo. Estou sorrindo. E estou sorrindo porque estou viva. E você?

Renata Lôbo

7 comentários:

Giovana disse...

"Quero ser essa pessoa indizível e de gostos estranhos, que procura amar através de muros de concreto. Quero acreditar. Acreditar só por acreditar. De graça mesmo. Como se ao não ganhar nada eu ganhasse algo. Algo que é só meu e me faz abrir os olhos e os braços para o instante agora. Porque é só nesse momento agora que tudo isso existe."

Eu também quero!

Um beijão :)

Taciana dos Anjos disse...

adorei seu texto! essa analise do tempo, do agora, das pessoas, de voce como pessoa e principalmente da parte em que diz " É preciso ter escuridão dentro de si para que se possa reconhecer e amar a luz." voce escreve muito bem! =D

Questão Fundamental disse...

Eu também estou sorrindo e feliz pela leitura que vc me proporcionou. Bom saber que há percepções muito além do lugar-comum. Faça-se escritora.

bjos

Renata Lobo disse...

Muito Obrigada pelos comentários!
Eu realmente fico contente quando vejo que alguém gostou de algum texto...
Eu não sei, acho que é meio magico isso...

Brasil Desnudo disse...

Belo texto e maravilhosa reflexão de estar viva e lúcida.

Adorei!

Muito bom seu blog

Bjs

Marcio RJ

Unknown disse...

Que texto lindo!
Só posso dizer que eu tambem quero!!!
E estou viva!!!!
Parabens"!

Briseis disse...

Acho que alguém ja comentou essa parte "Quero acreditar. Acreditar só por acreditar. De graça mesmo. Como se ao não ganhar nada eu ganhasse algo. " Senti alguma coisa lendo o que escreveu.Como uma pedra lançada em um poço. rsrsrs nao sei explicar. Besos.