O que é o amor senão um jogo idiota onde o que se tem a perder é o mesmo que se tem a ganhar? E as asas do dilúvio te naufragam com as sutilezas de garras recém pintadas e escarpadas. Uma subida miserável e uma descida gloriosa. Um enredo perfeito de fantasia e nada. E eu posso me afundar perfeitamente já que o que me segura aqui é insolúvel em meus dedos amargos de tanto deixar. Minhas pernas fracas de tanto fugir. E meu desejo subliminar de pedra funda e coração embotado. Meu colar de falsas poesias e falso torpor e a arrogância de estar só.
Estou só. E que Deus me ajude a enxergar o bom, porque o mau trago irremediável em mim. Minhas limitações humanas e perdidas e esse pecado inútil de ser suficiente. De ser uma só. Sem contraparte, sem alma secreta, sem espelhos mentirosos.
Que se avisasse antes de mais nada, meu amor, tenho fagulhas nos olhos, ácido na boca e espinhos na alma. E meu coração, eu o perdi há léguas e milhas de mim. Acho que fugiu. Vai saber. Nem ele me agüentou, provavelmente ainda está procurando um par, um lugar, um desejo, qualquer coisa para sentir.
Eu que queria ter apagado tudo. Um zero fresco. Mas para isso é necessário voltar, e sou covarde de mais para olhar para trás, para duvidar. Para me desculpar. Meus descuidos. Meus erros poeirentos. Minha inveja aguçada mesclada com meu cinismo. Egoísmo.
Sou toda isso. Um pacote estragado. Sem selos suficientes. Perdida no caminho entre aqui e lá, tentando se decidir qual saída de emergência é a mais fácil, a que está mais próxima, empunhando uma espada invisível e lacerando todo carinho declarado, toda tentativa tola de ser alguém para alguém. Toda lógica insensata de amar. Amar e ser amada. Perdoar e ser perdoada. De não mais deixar, e de nunca mais ser deixada.Patética. Tola. E fraca. De coração ensangüentado.
Renata Lôbo
domingo, março 21, 2010
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Um comentário:
encontrei seu blog em uma comunidade do orkut...me identifiquei muito com seus textos, vc descreve muito bem o famoso grito interno feminino! =) bom diaaa
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