quinta-feira, março 04, 2010

Olhos


Seus olhos a assustaram. Não se importava que outros tivessem aquela expressão, aquele desagrado, mas quando aqueles olhos a encontraram, não pôde deixar de sentir um calafrio e a vontade de gritar. Por Deus, apenas um grito, mesmo que nada resolvesse, mesmo que o mundo não parasse. Mas então, o que adiantaria? A decepção naqueles olhos continuaria firme. Julgando. Quase matando. Com pedradas. Fagulhas de um ódio delicado se juntavam no fundo de sua garganta. Incinerando-a. Apenas respirou sentindo aquele peso em seus ombros. Esmagando-a com a delicadeza de um sorriso bobo, então ela que se disfarçava em falso amor compreendido, como se nada importasse, e por dentro, tão dilacerada que estava, acordava em pesadelos saltitantes e escoriações em sua pálida alma assustada.

Transfigurava sua loucura em doces fagulhas de ódio moribundo, mas ainda intacto.

Renata Lôbo

Nenhum comentário: