Estava vivendo alguma coisa. Alguma coisa importante, sabia disso, embora não soubesse ao certo o que era. O mundo a envolvia de forma delicada com fatos obstinados e consumados. Consumia-se em sua revolta particular, pois que deixada na ignorância de sua própria alma, aquilo a deixava sem chão, sem pés, sem ninguém. Seu silêncio de túmulo a diferia dos outros à sua volta, tão ocupados que estavam com suas vidas, seus projetos, seus sonhos inacabados e esgotados. Esgotados até os ossos com seus pecados e pesares de almas estreitas. Ela se diluía com facilidade tentando esquecer aquele mal-estar absurdo, aquela vida sem hora, lembranças carcomidas de um refúgio sem abrigo. “Vamos voltar!” ela disse para si mesma sem saber para onde ir, como se chegava àquele vazio que era sua multidão interior? Como se crescia quando seus ossos se colavam às lembranças de um tempo tão parado e enraizado onde o Sol iluminava com olhos infantis seus cabelos encaracolados de azul-opala? Como evoluir se sua condição primária era a de encolher nas paredes vazias de seu quarto deserto? Se em seu interior aquela voz ridícula gritava em cólera absurda contra ela própria?
“Vamos voltar! Vamos voltar! Vamos voltar! VAMOS VOLTAR!!!”
Fechava os olhos presa em seu mundo sem portas, em suas janelas sem chão, sem saltos, sem lar.
“Vamos voltar! Vamos voltar! Vamos voltar! VAMOS VOLTAR!!!”
Fechava os olhos presa em seu mundo sem portas, em suas janelas sem chão, sem saltos, sem lar.
Renata Lôbo
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