quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Avisos


Estou carregando meus sonhos no colo. Embalando-os ao ritmo de uma canção de ninar. São meus bebês mais frágeis e preciosos. Só tenho a eles. Meu futuro, meu passado e meu presente estão incógnitos. Enterrados sob os escombros. Meus destroços preferidos. Cortei as correntes que me ligavam aos meus mundos. Adormecida. Aborrecida. Abraço meu coração e me consolo pois só tenho a mim mesma, e o tempo está passando, à cada badalada do relógio pulo de susto e meu coração cai solitário e se destrói. Sozinha, me destruo. Sem rimas e nem poções. Vomito sangue azul e sobrevivo às noites impossíveis.
Caminho graciosamente nas florestas de meus doces pesadelos e acordo agitada, sofrida, aos pedaços. E os sonhos quase escapam, quase se perdem. Minhas mãos não seguram mãos nenhuma, pois quem me acompanhasse se perderia, e eu só posso me perder sozinha, acompanhada dos meus fantasmas. A solidão tem cheiro doce e ombro amigo, e viver exige muito, mais do que posso oferecer...
Não vou me lamentar. Vou sorrir e continuar sem futuro e nem presente. Escolho o que resta do meu mundo e dele me consolo com mãos vazias e rosto frio. Nada de calor na minha cama, não essa noite. Me acostumo. Me acomodo. Me deixo ser o que sou, sem medo do monstro cruel e egoísta que trago aprisionado n’alma, no profundo abismo que encerro no peito. Vamos dançar essa noite porque o dia virá temos tão pouco tempo!
Quando tudo terminar, quero poder acreditar que sempre dei o melhor de mim e que se me machuquei, foi por acreditar que sempre valia à pena, e que mesmo que os destroços continuassem destroços, acreditava que flores nasceriam no meio da destruição doce e cinza; no meio do caos a vida renasceria; no meio do nada eu renasceria, volúvel, inteira, intacta.
Venha fraco o amanhã já que não tenho asas que me elevem aos sonhos e me levem além do meu mundo patético e imperfeito.
Venha fraco o amanhã para que eu não me desespere.
Estou toda sombria agora e meu sorriso por vezes se apaga. Me apego. Não me nego. Não me deixo. E deixo. Deixo tudo. Todos. Todas as horas. O tempo. Construo castelos sobre pontes despedaçadas. Me despedaço. Me acho e depois me perco. Apaixonadamente me perco por ruas desertas. Persigo arco-íris, flechas. Meu coração ferido, meu espírito inteiro. Sou tudo e não sou nada. Amor e morte. Perdição. Confio minhas derrotas aos meus fantasmas. Não esquecer. Não esquecer que o mundo me esquece. Suavemente, afogo. Suavemente, queimo.
Meus medos, doces primaveras. Tudo mais me resta. Resto. Fico. Fiquei sozinha. Pedaços inteiros partidos ao meio, fantasias baratas, compradas, vendidas. Que o amanhã me leve, me tome pela mão. Sou criança perdida e cansada por entre sonhos desertos, sem ninguém por perto. Vozes abafadas, medo aconchegante, bicho-papão às minhas costas. Somo tudo e depois multiplico, tenho muitos buracos. Penso que é assim que se vive. Não me esquivo, lágrimas não me afetam, não me bastam. Vou me matar 300 vezes só para reviver depois. Renascer 300 vezes. Explico meu nome, justifico. Acredito. Vou me salvar depois. Agora não quero. Quero perdição, veneno, maldição. Quero o pior do mundo. O melhor, entregue aos bons. Eu não sou para isso. Quero o mau gosto, a falta de bom senso, falta de noção. Vou forte e destruo mundos inteiros. Não sei brincar sem destruir. Não sei viver sem destruir. Não sei amar sem odiar. Deixe-me assim. É assim mesmo que vivo.
Não vou me desculpar, nem olhar para trás uma nem duas vezes.
Eu disse, me acalmo, eu avisei.

Renata Lôbo

4 comentários:

Unknown disse...

Renata, me identifico mais a cada dia que passo com teus textos. E sim, é em um mundo triste e ilusório que nascem os bravos e os vencedores. A solidão é tudo que nos resta já que todos estão tão concentrados em seus pequenos e insignificantes interiores mal feitos.
Tutti ce piu bello in nuestro mondo.
=X

Unknown disse...

E que anime é esse que tem mutado teus textos? Queria muito assistir.

Unknown disse...

Meme pra você la no meu blog
abraços não amados.

Unknown disse...

Outro presente para você no meu blog. Abraços!