terça-feira, abril 15, 2008



" E se ele resolvesse que queria proteger outra pessoa? Que mal faria? Quem é que se machucaria e o que é que se perderia? Existia um eu perdido e assustado entre paredes sólidas demais para serem derrubadas. O ar era pesado e exalava o cheiro da solidão morta. Se ele não voltasse... Quanto tempo levaria para descobrir que na verdade não queria ficar entre muros intransponíveis e o rosto dela manchados de tristeza mascarada? Deveria saber admtir uma derrota, sem o peso da vergonha. Não suportava mais. Ele que sempre se achou de força extrema. Perdeu. Não podia salvar ninguém. Não naquele lugar. ...
Apareceu como uma lembrança perdida. Um perfume que o transportava para terras distantes, sol e areia clara. Afogava-se. Afundava-se. Mas juro que ele era inocente. O mais inocente que alguém pode ser em lugar onde as almas caem e não há cura, mas muito sangue imaginário. Estou falando por ele que há pouco tempo desistiu de tudo. E de sua boca apenas palavras sem sentido fazem qualquer sentido. Piadas. Palavrão. Nenhuma canção colorida. Nenhuma cor em seus olhos. Começava-se a creditar que era ele quem precisava de proteção. O problema é que ele não notava, ou não acreditava. O homem precisava do colo e dos seios fartos da mulher que ele cansou de tentar salvar. Mas então havia outro problema... Ela nunca pedira por salvação. E ele disfarçava o que nele morria e todo o resto parecia ato heróico e cavalheirismo exagerado.

Acreditasse nas mentiras que contava terminaria acreditando que era capaz de amar. E acreditando, talvez fosse de verdade. Não sabia o que tornava qualquer sentimento digno de confiança. Preferia canções melancólicas e perfumes que traziam lembranças.
Afogando. Perdendo. Vivendo..."


'Eu te amo' eram palavras cruéis demais para se dizer a quem estava tão fundo no poço, colado ao chão, já meio-morto.

Renata Lôbo

Um comentário:

Anônimo disse...

a pergunta: você se decidiu por essa foto pra ilustrar seu texto, ou viu a foto e começou a escrever? (aliás, curiosidade a parte, tá muito bom!)
beijos