terça-feira, fevereiro 14, 2012


Ah, o coração ficou tranquilo com a promessa do dia seguinte que surgia junto aos primeiros raios de um sol avermelhado. Se soubesse dos dias seguintes, provavelmente estaria amedrontada. Existia um futuro, mas até onde esse futuro a levaria? Se caminhasse pela calçada sobreviveria aos perigosos carros que vinham pela contramão. Não! Era ela quem andava pela contramão agarrada à uma bandeira branca, apenas para enganar os inimigos, ou para enganar a si mesma talvez. Para se surpreender e continuar andando mesmo depois de desistir, mesmo depois de gritar em alto e bom som - Eu desisto! E se agarrava à prova visível dessa desistência. Eu desisto! E o fogo nela, pequeno e pálido, se aquecia como sinal da força inesgotável que escondia de si mesma. Adorava descobrir que ainda tinha fôlego para mais uma longa caminhada. Embora soubesse. Ah, sempre sabia até onde podia chegar, mesmo que o futuro nada lhe revelasse, mesmo que o dia seguinte fosse apenas uma promessa, sabia que podia sempre se levantar... Mas precisava da surpresa, do prazer que era cada descoberta, e escondia de si mesma - como um cão que escondia o osso apenas para depois encontrá-lo enterrado num lugar esquecido - escondia a sua própria força armazenada no seu mais profundo abismo, e este, enfeitava com flores azuis só para ver, intrigada, a ironia da beleza e das flores que nasciam também em túmulos, em terra seca, terra queimada.
Brincava com o perigo - pior que fogo, porque desse ainda se podia morrer - Se balançava no seu nada como um jogo de vai-e-vem, destemida e impregnada de um acaso que só a sorte concebia. Só o acaso, só a sorte, e estes se mesclavam e surgia então a sua própria ira. Dizia adeus ao próprio Deus, e Desse nada mais se tinha. Erguia a cabeça então, reta, esguia, como serpente encantada. Atormentava-se sempre, com questões irrelevantes, com medo, sempre o medo de descobrir a resposta:
- ... .



Que a resposta nunca chegue.

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