Parece que às vezes ela se engana, que se mata e se maltrata, que se acolhe no próprio peito e esquece as dores lembradas, parece que olha para o céu e vê passarinho, arco-íris e nuvens em forma de gato, algodão doce, parece que ela às vezes chora de saudade, chora de amor, chora por chorar, chora por dor, ela que sorri aos poucos, que se dá aos poucos, e que ama aos poucos, para aproveitar as alegrias raras, parece que ela maltrata a própria dor, que apela quando perde o jogo, que chama em voz baixa, singela, que segura na mão, que ruge de dor, que cora de vergonha, ela é passarinho, presa no faz de conta, só pra fazer de conta que não é, que é gente de verdade, cheia de liberdade e vontade, ela olha o reflexo no lago encantado e vê as cores que inventa, inventa uma vida inventada de tanta saudade, um dia ela jura que lembra, que não era assim, que era comum e normal, gente como a gente, parece que ela acredita em felicidade, parece que ela sorri e dança na chuva, e o sol acompanha, iluminando seus cabelos e incendiando tudo à sua volta, só para ela admirar, só para ele admirar, só para ela não chorar, porque dentro a dor é de verdade, e mesmo a beleza não apaga a lágrima contida, parece que ela se corta, só pra ver o sangue brilhar, só para apagar a própria chama, parece que ela não chora lá, mas é mentira, é só para enganar, porque ela é faz de conta, e o sangue não conta, o que conta é o que não se pôde dar, é como não se pôde amar, é como mesmo no meio de tantas alegrias e gentes, o que conta é o que não se pôde dizer, mas parece que ela vive como quem não vive, ela se faz ver, mas no fundo ela só podia esquecer, fazendo de conta que aquilo é sonho de verdade, que o que importa é lar, que é doce sonhar, que o seu sonho era um sonho de ninar, mas mesmo naquele mar ela não podia se afogar, parece que às vezes ela se esquece que é dela que se fala, que é dela que se esquece.
Acompanha a música nessa nova estação porque os sonhos... os sonhos se perdem no verão, como os vagalumes no Japão, gente lá e aqui, me fizeram lembrar qualquer coisa que já não importa, que esqueci depois que fechei outra porta.
Renata Lôbo