segunda-feira, janeiro 10, 2011



Como dizer o que quero dizer? O coração anda mudo de cansaço da expectativa, nunca dizer o que se emudeceu no peito tornam os dias pesados e murchos... Vai-se vivendo então como se pode, dia após dia, as obrigações diárias, o mundo vai girando contraditoriamente, se esquece de alguma coisa - o que era mesmo?? - e então respira fundo, logo vai passar, e a noite chega para emudecer o resto do mundo... Ah, mas ando tão cansada da mudez humana. 'Where is your heart, baby??' É a verdade humana que açoita os pensamentos presos na linha invisível, do dia de amanhã e o nada abismal de cada um, vamos vivendo um passo de cada vez e a estrada é larga demais, nos afastamos então, com receio de que alguém nos tome por pessoas de sentimentos. - Como você está? -Estou bem! ela diz. 'Where is your heart?' Ela diria, timida e num único fôlego: Estou me acabando, os dias parecem longos demais, meus olhos estão cada vez mais vazios, estou morrendo, acho, de uma doença lenta e não catalogada, e então olharia com os olhos em desespero, orgulhosa demais para dizer: me salva! Olharia então para a outra e diria, com um sorriso amarelo - E você? Como está? Já pressentia desde já o abismo nos olhos da outra. Estou sozinha. Seriam as palavras não-ditas guardadas no silêncio pressentido.

Vamos dizendo então para o nada e para o ninguém...

Renata Lôbo

3 comentários:

Renata Lobo disse...

Esse texto foi escrito em algum momento de 2006, mas só recentemente foi reencontrado...

Giovana disse...

"Vamos dizendo então para o nada e para o ninguém..."
Apenas repito.
Muito bom!

Briseis disse...

Ultimamente acordo pensando no anoitecer. Penso por muitas vezes que parece egoísmo, querer que os dias apenas passem rápido, como se realmente estivesse esperando por uma data desconhecida, mas acontece que dormir é mais fácil do que tentar entender certas loucuras internas, não é? Os sonhos são mais confortáveis do que a realidade, mesmo quando são pesadelos.