sábado, janeiro 15, 2011


Verdade seja dita, ninguém me deixou cair, eu caí por conta própria. Cortei as cordas que me ligavam àquele mundo e pulei de olhos fechados enquato aspirava o ar rarefeito. Assumo meus erros, minhas culpas, minhas faltas. Assumo meu não estar, meus sonhos picotados, sua foto esquecida. Assumo tudo que destrui com mãos ávidas pelo fim. Assumo minha queda, meu abismo e tudo que em mim dói. E que te dói. Ou te doeu.

O ciclo se completa, ou se fecha. Estou fugindo de novo. Procurando, talvez. Ou fingindo ter certeza de que o quebra-cabeça pode ser refeito. Mas falta um pedaço, uma parte. Uma parte que ficou escondida em escombros perfeitos. Assumo essa culpa também. Estou sempre me boicotando, me achando de amor inútil e inocente. Ópera de amor fugaz.

Então eu vou chover por hoje. Só hoje. Amanhã é outra promessa.
Não era um sonho, afinal de contas.

Renata Lôbo

segunda-feira, janeiro 10, 2011



Como dizer o que quero dizer? O coração anda mudo de cansaço da expectativa, nunca dizer o que se emudeceu no peito tornam os dias pesados e murchos... Vai-se vivendo então como se pode, dia após dia, as obrigações diárias, o mundo vai girando contraditoriamente, se esquece de alguma coisa - o que era mesmo?? - e então respira fundo, logo vai passar, e a noite chega para emudecer o resto do mundo... Ah, mas ando tão cansada da mudez humana. 'Where is your heart, baby??' É a verdade humana que açoita os pensamentos presos na linha invisível, do dia de amanhã e o nada abismal de cada um, vamos vivendo um passo de cada vez e a estrada é larga demais, nos afastamos então, com receio de que alguém nos tome por pessoas de sentimentos. - Como você está? -Estou bem! ela diz. 'Where is your heart?' Ela diria, timida e num único fôlego: Estou me acabando, os dias parecem longos demais, meus olhos estão cada vez mais vazios, estou morrendo, acho, de uma doença lenta e não catalogada, e então olharia com os olhos em desespero, orgulhosa demais para dizer: me salva! Olharia então para a outra e diria, com um sorriso amarelo - E você? Como está? Já pressentia desde já o abismo nos olhos da outra. Estou sozinha. Seriam as palavras não-ditas guardadas no silêncio pressentido.

Vamos dizendo então para o nada e para o ninguém...

Renata Lôbo