segunda-feira, dezembro 06, 2010

A sensação de 'estar superando' tem engatinhado aqui dentro, somos velhas amigas em encontros desastrosos. Caminho lentamente com o coração falho, lembranças engavetadas, sabe como é? Talvez agora eu possa encarar as escolhas que fiz com mais orgulho que dor. Com mais amor e menos mágoa. Amor por mim mesma - se é que sobra algo. Dê o braço a torcer e peça por mim, estou arriscando muito. Feridas semiabertas, ou seria semifechadas? Olhe para mim! Tenho novas cores, novos traços, o esboço de um sorriso antigo.
Talvez eu supere mesmo. Talvez eu corra cirandas encantadas e rasgue páginas. Um número de cada vez. Um dia de cada vez. Um sonho por dia. E um dia por sonho. Memórias transbordando sem finais felizes, sem ponto final. Só você e eu. Não. Só eu. E hoje. Porque o pôr do sol era magico e era só meu. Um céu inflamado de dores superadas e cuspidas, pois não quero mais nada disso.

(Confesso que por vezes, ainda estou afundando lentamente, e às vezes chego a segurar o fôlego, pois tenho medo de me afogar pra sempre... Confesso que o sangue está correndo na direção contrária, que minha alma continua de pontacabeça, que sinto saudades de sentir amor, não o de outras pessoas, mas de mim para qualquer alguém. A solidão está me devorando aos poucos, um pedaço de cada vez.
Confesso que superar não é tão divertido, porque no final não sobra nada, nenhum pedaço de história para agarrar no meio da noite como um cobertor de criança... Sinto falta de cheiros que me levem para qualquer outro lugar que não aqui... Sinto falta de ser gente, perdi o jeito e já não sei como me segurar à borda da normalidade...
Um Ouriço assustado. É o que sobrou da minha casca. )


Contravenções e Contradições, sou um pouco de tudo. De tudo ao meu tudo, que seja bom meu próximo mundo. Cicatrizes superadas. Só por hoje.


Renata Lôbo

4 comentários:

Anônimo disse...

Não é tão ruim. Não quando se entende, quando se pensa.
Chegamos só, permanecemos só, e é só qe iremos embora; regra geral. Os que mais aparentam estar fora desse grupo, são os que mais estão dentro e os que possuem mais medo de não estarem. Os de um alguém só, correm risco. Depositam tudo por temor à solidão e, por isso, podem dar de cara com a decepção.
Felizes - ou melhor, estáveis - são aqueles que sabem que estão sós, sentem a solidão como uma boa pessoa, com tranquilidade, nao como se esta fosse uma vilã. Não como algo a que fugir.
A tranquilidade está em compreender que ela faz parte de cada ser, que é indispensável, todos precisam dela, todos a querem, mas todos a temem. A temem por pura cultura. Mas aquele que a aprecia, tem segurança, pois não precisa de ninguém. Apenas compartilha um pouco de si com os anjos e demônios do caminho, sem medo ou esperança. Encontra o melhor tempo em cada pessoa que por sua vida passa. Pessoas de momento. É o que todos são para todos.
Não há pena em ser só. Não há o que temer. A solidão é amiga e companheira de todos até a morte. Deguste de sua companhia. Descubra que ela está em ti, cravada em suas vísceras e que é impossível retirá-la. Não sinta pena de si mesma. Busque o lado bom. Sinta na solidão, uma amiga. E vá atrás de suas pessoas de momento. Elas podem lhe dar o melhor tempo. E esse, nunca de apagará.

Renata Lobo disse...

*Chegamos só, permanecemos só, e é só que iremos embora"
Entendo os fatos e os aceito, mas isso não os torna menos triste, racionalizar não impede de sentir. A gente precisa de medo, precisa de esperança, precisa de montanha russa, adrenalina, sangue correndo... não tranquilidade e paz, isso é vida em pleno domingo - não é tão divertido. E pessoas de momento? A gente esquece os rostos, eu esqueço os nomes e esqueço os momentos... Não acho que seja algo de cultura, mas algo primitivo. Concordo que a solidão é nossa companheira até o fim, e não a temo, acho que o segredo está em não ter medo da própria solidão que é seu reflexo vestido de silêncio, mas acho que o segredo é também não se acomodar, porque aceitar a própria solidão é um passo, não o caminho.


Obrigada pelo comentário, me fez refletir! ^^

Anônimo disse...

É, reconheço que é preciso adrenalina. O morno sempre não dá vida, tem de ter quente e frio. Embora a tranquilidade seja também necessária.
Acredito que os momentos não são simplesmente esquecidos.. Eles vivem dentro da gente, por mais que estejam empoeirados em algum canto escuro da mente. Passamos por eles em algum tempo, e esse tempo é registrado dentro de nós.
Cultura e primitivo, dependendo da situação, podem estar juntos. ;)
Gostei muito de sua réplica; me mostrou como meu comentário transpareceu conformador, o que não era minha intenção. Não sei brincar com as palavras e, na maioria das vezes, transmito a confusão de minha mente sem organizar nada.

Peço desculpas pela demora.
Aprecio muito seu blog e o li de cabo a rabo. Sempre que tenho tempo, passo por aqui.
Agradeço a, digamos, conversa. ^^

Renata Lobo disse...

Eu também dificilmente consigo expressar exatamente o que quero dizer... Acredito também que cultura e primitivo podem andar de mãos dadas... Mas acho que acima de tudo, o humano é um resumo de contradições, queremos a liberdade, ao mesmo tempo queremos um lugar quentinho pra onde voltar... queremos paz e tranquilidade, mas ao mesmo tempo queremos o sentimento de "estar vivo" que não se encontra em uma tarde de domingo modorrenta.

"Mais uma prova de como o ser humano é contraditório. Um punhado de bem, um punhado de mal. É só misturar com água."
Acho que essa frase resume bem! ^^

Obrigada pela visita, obrigada pelo papo, de verdade! :)