No canto escuro da noite, os sonhos se misturam, e a nuvem tóxica aparece como um convidado incômodo. Apenas para dizer oi!
Papai do Céu, me perdoa! Eu não sei o que fazer de mim!
Mesmo que as estrelas desabassem, mesmo que fosse sempre noite, e o sol queimasse mil eras, mil papéis... sonhos coloridos e bolhas de cristais.
A criança olha o céu cor de rosa e sorri.
À beira das lágrimas vive um sorriso maroto que quase sabe do que foi feito, mas mil caminhos sutis abrem alas aos pesadelos mansos. Quero uma gaivota que cative meu coração com cuidado para que ele não se quebre de novo. Quero um pedaço de sonho para guardar no fundo da gaveta e acreditar que o que quer que trago aqui, não significa o fim, nem o começo, nem a dor.
Dias nublados.
À beira das lágrimas mora um poço sem fim e sem razão chora melancolias perdidas de uma idade já avançada. Quero enterrar meu mundo e aspirar mil canções como hino fúnebre, de peito aberto e coração ensanguentado. Nunca curado. Nunca salvo. Nunca manso. Nunca deixado.
Quero gritar mil vozes, mil letras, mil sonhos partidos em porcelana fina. Pátria de mim, me aceite assim, cuspindo flores e engolindo espinhos.
Estou subindo escadas que não me levam a lugar nenhum, subindo ou descendo, já nem sei. Pulsos marcados e vermelhos-escuridão como sonhos alternados. Me pegue enquanto caio. Me pegue porque caio. No silêncio, na noite, no vazio, no frio. Alma-minha, Minha-alma.
Estava sem forças e alarmes soavam docemente como uma sirene mal interpretada. Não era o fim. Não era nada. Doces mentiras disfarçadas de sorrisos fortes como café pela manhã e migalhas de pão velho à noite. Cigarras brigando por um pouco de atenção. Dores avançadas. Espumas mortas à beira-mar, à beira-praia, à beira-lágrima.
Muito pensamento faz sangrar o coração.
Renata Lôbo