quinta-feira, junho 10, 2010


Ela era assim. Muda. Calada. Apática. Sem sinais óbvios de linguagem. Nem mesmo corporais. Não é que ela não soubesse. Ela apenas não queria. Quem é que a julgaria por esse simples detalhe? Se ninguém notasse, então nada mudaria. Se ninguém a visse então ninguém notaria. Havia tantos ninguéns. Havia tanta coisa subentendida em olhares perdidos e secos. Havia sintomas de saudades impressos em tintas coloridas e brilhantes que enfeitavam salas sem visitas. Atuações. Charme. Obsessão. Ela era um pedaço de céu azul em uma tarde cinza. Ou seria o contrário? Apenas uma estrangeira em terra amada. Terra nascida. Uma estrangeira por natureza. Por incompatibilidade sanguínea. Por escolha própria. Por vida própria. Seu estrangeiro era o mundo lá fora. Ondas cerebrais de pássaros cantantes. Notas musicais sem cor e sem riso. Pátria de ninguém, só para variar. Tão clichê, pensou. E tão real.

Renata Lôbo

Nenhum comentário: