Ela se segurava firme. Pronta para muita coisa. As mãos trêmulas, o queixo com um tremor leve como se não devesse estar. Então ela engolia a dor. Levantava-se rodando pelo quarto e contando até três, dez, cem. Qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo. Ela estava cansada e não se sentia bem. Não. Eu estou bem. Dizia mais para si mesma do que para ninguém. O mundo não importava. Só seu universo onde se contorcia cansada demais de tantas amarras, tantos tombos. Pronta para tudo o que viesse. Ela apertava as mãos como se algo pudesse escapar, como se o mundo pudesse quebrar. Então seus olhos choravam. E ela os fechava como se pudesse evitar que o mundo desmoronasse. Mas tudo desmoronava. Ruía. Então sorria, áspera, como se tudo tivesse sentido. Houvesse um senso. Bola flamejante em mundo normal.
Eu me esqueci. Mas sei que devia me lembrar. Então agora eu lembro. Minha escuridão é minha. Só minha. Não devia ter estragado seu céu com o meu cinza. Mas agora que me lembrei não vou mais esquecer. Que a escuridão que me acompanha é minha melhor segurança, meu remédio venenoso e uma parte substancial da minha própria alma. Talvez tudo tenha sido minha culpa. Veja bem, eu disse talvez, pois ainda acredito no livre arbítrio e por isso decido acreditar nesse talvez, insosso e sem nenhuma cor. Talvez seja muito minha culpa e ainda assim não estou nem aí. Meu mundo é meu e só meu. E acredite em mim, você seria esmagado se soubesse metade da minha verdade.
E ela se acanhava com olhos indecisos como se o paraíso fosse algum lugar que machucasse, como se o ódio não incomodasse, como se o mundo fosse um grande jardim de flores secas onde borboletas negras criavam seus furacões. O céu particular de um modo tolo e prático. Caminhe ao meu lado para que eu saiba que não estou só. Pare o tempo que quero descer. Pare as horas que quero pirar! Pare o mundo para que eu não me destrua.
E por favor, vá vender loucura em outro lugar.
Acendeu então a luz. Pronta para mais um pesadelo.
Renata Lôbo