quarta-feira, dezembro 17, 2008


Só que aquilo não contava como parte do seu fatal. Se distanciava do mundo ou das pessoas que a reconheceriam como um mundo. Que as pessoas não esperassem nada dela, era isso que desejava. Cercava-se de carne desconhecida, de rostos que nunca lhe veriam quando a noite ameaçasse lhe morder tirando sangue de sua alma, cada vez mais apagada. Isso era seu doce suicídio, seu segredo sepulcral. Ninguém entenderia e ela seria apenas mais uma dessas pessoas, pouco interessantes, pouco convenientes em mundos pintados de rosa. Talvez estivesse tudo bem ser assim. Sem jogos e segredos; estes, havia enterrado em algum canto junto com seu passado. Porque memórias não interessavam a ninguém. Apenas a ela. E apenas de vez em quando. Pois que o mundo lhe arrancasse tudo. Nada disso importava enquanto aquele pedaço de seu mundo permanecesse salvo, mesmo que enterrado. Mesmo que isso significasse uma alma apagada de rosto comum. Mesmo que ninguém nunca entendesse tudo que era ela.
Não havia volta. Não havia para onde voar. Que fosse assim então. Não era triste. Era sensato. Nada de amores. Não esssa noite. Não para ela. O que quer que existisse naquele instante e naquelas noites, estava incógnito. Escondido entre alguma estrela murcha e pedaços cinzas de seu céu caído. Apenas assim...

Renata Lôbo

Um comentário:

Unknown disse...

Continuas assim.
Sobre as memorias, sobre as máscaras, todo mundo é diferente não importa qão igual queira parecer.
Sempre ousada e distinta. Segue assim com teus textos!