Se olhasse demais terminaria caindo mais uma vez naquela maldita armadilha tão repleta de espinhos e farpas. O coração dava alguns saltos e caía com um barulho seco, tão dolorido que respirar se tornava insuportável. Que não rasgasse seu próprio coração com lembranças ditas esquecidas e apagadas. Que não se rasgasse o momento agora que estava sendo tão feliz e cheio de risadas. Que se rasgasse as memórias, o resto de amor embolorado no pulmão, a imagem que não refletia mais em seus olhos escuros de tristeza inacabada e alegria desbotada. Que se quebrasse qualquer coisa, menos ela própria. Menos ela própria. E seus desejos incorrigíveis, que alguém a buscasse no aeroporto e lhe afagasse com carinho os cabelos partidos, os sonho abandonados, e as malditas lembranças que se recusavam a deixa-la, já estavam enraizadas e de vez em quando, como naquela noite, as lembranças subvertiam com uma esperança moribunda. Como se nada tivesse acabado. Não que ela acreditasse nisso, ela sabia que o mundo já tinha se mexido e rios de tempo já haviam passado, mas às vezes ela esperava, como uma criança esperando seus sonhos, seus pais que não voltaram, seu primeiro amor no portão, a esperança mais boba do mundo... às vezes ela esperava que ele a visse... Visse suas fotos e as lembranças dos dias comuns... Que se lembrasse com apenas um pouco de saudade... O suficiente para que ele voltasse. Que ele soubesse que ela estava do outro lado do rio, esperando que ele olhasse em sua direção... Víceras de um coração dilacerado espalhadas na parede. Ela não devia mais ver suas fotos, mas em dias assim, o bom senso dava lugar àquilo que a comandava, aos sentimentos. E ela partia seu coração, um milhão de vezes, antes de adormecer com sua imagem presa na retina.
"J'ai écrit ton nom sur tous les papiers,
Je m'en rendais plus compte, j'étais possédée
Le début d'un long voyage
Le début d'un long voyage
Qui me mène à toi.
Je te regard des heures mais tu n'es pas là.
J'ai beau faire le tour du monde
Mais tout me ramène à toi,
T'es partout à la fois.
Il y a d'autres histoires d'amour
Qui n'attendent que moi,
Mais tant pis
C'est avec toi que je me sens...
Moi."
Ao som de Joyce Jonathan - Tant Pis