Seu erro não havia sido ter deixado a porta aberta. Mas ter passado por ela. Arrogante, irritante, um algoz pedante. Sem passos leves, sua barriga coroada pela gula e pelo tempo perdido para o nada. Seu erro era ser quem era. Era não se importar e não enxergar. Se tivesse visto aqueles olhos ferinos que sussurravam ódio e desprezo, se tivesse notado que aquela pessoa não era mais tão pequena e não sofria de medo congênito, talvez então tivesse tido tempo de respirar e ir embora. Ir embora era uma solução obvia, o único caminho para aquela tarde pálida e ensangüentada. Mas seu erro continuava ali, rindo-se do homem idiota e velho que não entendia a cabeça do martelo em sua direção. Crânio dilacerado. Erro puro.
Renata Lôbo