_ Eu não quis dizer que você fosse inútil... - ela o encarou com um certo espanto, só agora se dava conta de que estava sendo observada. E àquele olhar, o homem que parecia de pedra sentiu um arrepio pelo corpo - Ou talvez quis. Mas não importa o que eu diga, você é quem sabe quem você é.
_ Como se isso fizesse diferença agora... Você já disse, foi cruel. Mas tudo bem, eu não preciso de você também.
_ Ei menina, o que você sabe do mundo? Não venha me dizer que não precisa de mim assim como se não fosse nada, você nem sabe o que te espera lá fora. - e mais uma vez o seu sangue de homem bruto falou mais alto, fora rude, como estivera sendo mais cedo quando começaram a fugir.
Ela lançou um olhar duro, como se tivesse raiva mas ao mesmo tempo também sentisse compaixão. O que, pelo ponto de vista do homem, parecia o mais inquietante. Era normal que as pessoas sentissem por ele uma espécie de raiva, até mesmo ódio. Estava acostumado a brigar e isso era normal naquele mundo de gente grande. Mas nunca vira ninguém o olhar daquela maneira. Compaixão, isso sim dava medo.
_ Então me diz, o que você sabe do mundo? Porque eu preciso de você?
_ Eu sei de muita coisa. - disse ele como se apenas isso bastasse para colocar um fim àquela pergunta - E você precisa de mim porque sou o único que sabe sair desse lugar.
_ Eu não acho. Acho que você não sabe de nada mas finge que sabe tudo. Assim é mais fácil pra se olhar no espelho quando você acorda, assim você pensa que não sente medo também. Mas tem uma coisa que você sabe, se não sabe eu vou dizer. - ela parou de caminhar e respirou fundo a fim de dizer a coisa mais importante de toda a noite. - Eu não preciso de você! Quero dizer, preciso, mas é só pra sair daqui. Depois eu vou te deixar para trás porque eu não quero ninguém me atrasando. - Ela continuou caminhando e disse quase num sussurro enquanto passava pelo homem que se desmoronava com a revelação da menina de olhos amarelos - Eu só estou te usando e você sabe disso!
Depois continuaram caminhando, ela com o rosto seco, sem lágrimas. E ele perdido dentro das palavras dela.
É... - pensou - realmente acho que não sei de nada. - Mas entendeu enfim porque tantas pessoas estavam atrás da garota de olhos amarelos.
(...)
Renata Lôbo