Fazia um dia calmo. Tão calmo que quase enjoava toda aquela paz. Caminhava pelo parque e todo aquele verde a sua volta trazia uma calma maior ainda. Não se podia dizer que naquele mesmo momento uma pessoa qualquer e desconhecida morria em um outro canto do mundo. Não, a vista estava perfeita demais para imaginar tragédias que ocorriam por aí. Como imaginar que pessoas sofriam e que alguém olhava para uma terra seca e pedia misericórdia para o Deus, naquele mesmo instante...
E ela caminhava lentamente sentindo o ar leve, o cheiro de vida fresca. Podia-se ouvir um rio correndo com a sua fúria controlada não muito longe, e todas aquelas folhas nas árvores com sua dança ritmada. Não era uma pessoa feliz, mas naquele momento podia-se dizer que o que sentia, se aproximava dessa coisa inconstante e sem som que é ser feliz.
Parou por um instante. Era deserto. Nada além daquela vida muda à sua volta. Fechou os olhos e se sentiu alerta naquele reino que não era seu, naquele mundo que não lhe pertencia, mas que por enquanto poderia apreciar com todos os seus sentidos.
Ouviu um pássaro que se encaminhava talvez para o ninho, um canto fraco mas vivo. As asas que batiam em movimentos rotineiros mas que a seus olhos eram tão incríveis. A luz fraca de um Sol encoberto banhava todo o seu corpo. E o seu coração pulsava calma e suavemente, entrava em equilíbrio com todo aquele universo - um universo, pois era tão vasto e tão magnífico que só podia se dizer de um Universo - então sentiu-se como bicho, como planta. Respirou fundo, e continou a caminhar. Ainda era cedo, tinha tantas horas ainda para viver e terminar o dia. Antes de sair do parque, olhou mais uma vez o balanço suave das folhas nas àrvores, notou o quão intenso era o verde naquela época do ano...
Então eu me encontrei assim, num caminho quase sem fim...
Renata Lôbo